Ser jogador de futebol no interior do Rio Grande do Sul é uma luta diária. A cada trimestre seu destino pode mudar, a rotina se transformar e a incerteza pairar sobre a sua cabeça. Em tempos de pandemia, a situação é ainda mais complicada.
Este cenário fez o lateral gaúcho Alexandre Bindé anunciar sua aposentadoria dos gramados. Desde o começo da semana, ele não é mais atleta profissional de futebol. Foram duas décadas dedicadas ao futebol e diversos clubes. Honrou a camiseta de cada clube, com respeito e dedicação.
A sua trajetória começou em 2003 no Juventude de Santa Rosa, ainda nas categorias de base. No ano seguinte, se apresentou no São Luiz. O time de Ijuí foi a primeira equipe profissional de Bindé. Na época, o preparador físico era Tiago Nunes, técnico campeão da Copa do Brasil com o Athlético Paranaense. O lateral ainda passou por outras equipes que recorda com carinho.
"Rodei por diversos clubes como Três Passos. Tive três clubes que marcaram. Foi o Porto Alegre, do Ronaldinho Gaúcho, onde fiquei três anos, foi um tempo muito bacana. O São José também foi maravilhoso, fiquei cerca de 4 anos e o Lajeadense, onde fixei residência em Lajeado. A região me acolheu muito bem", contou ao site peleiafc.com.
O primeiro Campeonato Gaúcho do atleta foi em 2006 pelo Glória de Vacaria.
Ele ainda passou por Caxias, Criciúma, Novo Hamburgo, São Paulo, Cerâmica e também atuou na Paraíba.
Em 2020, a pandemia forçou ficar meses sem poder trabalhar com paralisação da Divisão de Acesso. O campeonato acabou cancelado e um novo emprego veio somente no final do ano, no estado vizinho, em Santa Catarina.
"Ano passado, depois da Divisão de Acesso fui para Caçadorense, em Santa Catarina. Quase subimos, batemos na trave. Felizmente lá teve campeonato e muitos aqui do estado migraram. Meu último clube foi Caçadorense na Divisão de Acesso-SC", contou o jogador.
CALENDÁRIO DO FUTEBOL ANTECIPOU DECISÃO
Conforme Bindé a aposentadoria era uma decisão que já vinha amadurecendo. Com 37 anos, ele projetava jogar mais dois anos, pois fisicamente está bem. Contudo, o calendário divulgado pela Federação Gaúcha de Futebol, com a Série A2 2021 somente em julho foi um balde de água fria nas suas pretensões.
"Fisicamente eu teria condições, tenho certeza. Teria condições de jogar em alto nível mais dois anos (...) mas devido à pandemia, ao calendário horrível do nosso interior complicou. Quando o presidente da FGF anunciou o calendário deste ano, caiu os butiá do bolso. Acesso começar em julho, Terceirona em abril e uma Copinha no final do ano para nós atletas é terrível. Analisando e conversando com a minha esposa, não tem como um pai de família viver do futebol. Já era horrível, imagina agora", desabafou.
Para ele, quem não se empregar no Campeonato Gaúcho vai ficar mais de 7 meses sem jogar futebol. No segundo semestre, o calendário prevê cinco meses de atividade com a Divisão de Acesso e Copa FGF. O jogador relata que é muito difícil viver desta maneiro do futebol.
"Os clubes do Acesso ainda terão condições de contratar o pessoal da primeira divisão do Gauchão. O clube vai contratar alguém em atividade da primeira ou atleta parado há meses ? Vai se limitar muito o mercado da Divisão de Acesso. A Terceira tem limitação de idade, é um campeonato para molecada. Infelizmente, nós do futebol temos conversado que depois que Novelletto saiu o futebol do interior está morrendo", relatou.
O lateral foi enfático ao dizer que o motivo da sua parada está ligado ao calendário apresentado. Ele pondera que falta mais respeito com os jogadores, a matéria-prima do futebol. Contudo, afirma que deixa o futebol feliz pela sua carreira dentro de campo.
"O porque de parar é em relação a esse calendário. Não temos como nos planejar com uma vida organizada financeiramente, de se trabalhar 12 meses ao ano. Tem clube que não paga manda colocar na justiça. Cheguei no meu limite. Muitos atletas já pararam de jogar, aqui em Lajeado tem muita opção de trabalho e chega no final do mês você recebe. Pensei bem e, enfim, chegou o momento. Nós atletas somos a matéria prima, mas não somos respeitados, infelizmente. Parte da FGF, dos clubes, não valorizar os atletas pais de família. Isso me entristece muito. Mas saio muito feliz pela minha carreira", finalizou.
Foto: Arquivo Pessoal
Comments